Elevação do nível do mar causa disputa política nos EUA.

Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), os níveis do mar estão se elevando muito mais rápido entre a Carolina do Norte e Massachusetts do que em qualquer outro lugar do mundo. A notícia chega menos de duas semanas depois de o Senado da Carolina do Norte aprovar uma lei proibindo as agências estaduais de divulgar previsões do aumento das taxas de elevação do nível do mar.
Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), os níveis do mar estão se elevando muito mais rápido entre a Carolina do Norte e Massachusetts do que em qualquer outro lugar do mundo. A notícia chega menos de duas semanas depois de o Senado da Carolina do Norte aprovar uma lei proibindo as agências estaduais de divulgar previsões do aumento das taxas de elevação do nível do mar.

Asbury Sallenger, oceanógrafo do USGS, em St. Petersburg, Flórida, e colegas publicaram o relatório em "Nature Climate Change". Eles analisaram registros de mareógrafos (equipamento usado para acompanhar o movimento da maré) entre 1950 e 2009 e constataram que os índices de elevação do nível do mar ao longo da metade norte do litoral oriental – de Cape Hatteras, na Carolina do Norte, a Boston – estão subindo numa velocidade três a quatro vezes acima da média global.

Em números absolutos, os níveis do mar nesse trecho da costa norte-americana subiram entre dois e 3,7 milímetros por ano desde 1980, enquanto a elevação global no mesmo período ficou entre 0,6 e um milímetro por ano.

A existência dessa zona ativa é consistente com a redução da circulação do Oceano Atlântico, a qual pode estar ligada a mudanças na temperatura da água, salinidade e densidade no norte subpolar do oceano.

Para os pesquisadores, em 2100, os níveis do mar nesse local ficariam entre 20 e 29 centímetros acima do aumento global o qual, segundo a maioria dos oceanógrafos, giraria em torno de um metro.

"Erroneamente, muita gente pensa que a taxa de elevação do nível do mar é a mesma em todo lugar, conforme derretem as geleiras e calotas polares", disse Marcia McNutt, diretora do USGS. Contudo, variações regionais em temperatura, salinidade de água e pressão do ar podem levar os índices de aumento a variar consideravelmente, o mesmo se dando com correntes oceânicas e movimentações de terra.
A lei sobre a elevação do nível do mar proposta pelos senadores da Carolina do Norte impediria que pesquisadores de agências estatais usassem a extrapolação exponencial para prever tal crescimento, exigindo o emprego de projeções lineares baseadas em dados históricos.

Segundo o texto da lei, "os índices da elevação do nível do mar podem ser extrapolados linearmente, mas não devem incluir cenários com taxas aceleradas de elevação do nível do mar".

Em função de críticas internacionais, a Assembleia Legislativa rejeitou a lei. Contudo, um acordo entre a Assembleia e o Senado do Estado prevê uma moratória de três a quatro anos no emprego da análise exponencial enquanto a Carolina do Norte conduz um novo estudo sobre o tema.

De acordo com a imprensa local, a lei nasceu da pressão de grupos lobistas e de cidades costeiras receosos de que investidores e empreendedores imobiliários ficariam assustados com as previsões de altas elevações do nível do mar.

O principal argumento da campanha lobista está na promoção de um estudo publicado pelo "Journal of Coastal Research", ano passado, de autoria de James Houston, diretor aposentado do centro de pesquisa da Unidade de Engenheiros do Exército, em Vicksburg, e de Robert Dean, professor emérito de engenharia costeira da Universidade da Flórida, campus de Gainesville, segundo o qual a elevação do nível do mar sofreu uma redução desde 1930. Céticos conservadores do clima de todo mundo se apoderaram do artigo e os autores têm participado de conferências de descrentes da mudança climática pelos EUA.
Pontos de vista

Falando à revista "Nature", Dean acusou a comunidade oceanográfica de ter um viés ideológico. "Nos Estados Unidos, existe uma ênfase exagerada numa elevação irrealista do nível do mar. Essa é a posição da maioria dos cientistas investigando o assunto. E o motivo são os orçamentos. Como sou aposentado, tenho a liberdade de publicar o que encontro sem qualquer viés nem necessidade de procurar financiamento."

Sallenger e equipe vêm conduzindo a pesquisa desde muito tempo antes de ter emergido a controvérsia jurídica na Carolina do Norte, mas seu estudo mira especificamente os achados de Houston e Dean. Segundo a pesquisa, os conjuntos de dados de Houston e Dean englobam períodos de tempo múltiplos, fazendo três quartos dos dados estarem inclinados a mascarar a aceleração da elevação do nível do mar na zona ativa do nordeste.

Sallenger prefere se concentrar em ciência a fazer qualquer comentário político. "Nós fazemos ciência relevante à política no USGS, mas não fazemos política. Isso cabe à Assembleia Legislativa. Existem advertências em tudo isso, mas nosso trabalho sugere não ser correto projetar elevações futuras utilizando uma interpretação linear."

A Carolina do Norte não é a única "zona ativa" dos esforços dos conservadores para afastar juridicamente a realidade da elevação do nível do mar. Em 2011, a Comissão de Qualidade Ambiental do Texas removeu todas as referências à elevação do nível do mar de um estudo científico sobre a Baía de Galveston e, duas semanas atrás, a Assembleia Geral da Virgínia aprovou uma lei encomendando um estudo sobre a elevação do nível do mar somente depois que referências às mudanças climáticas e à elevação do nível marinho foram removidas.